terça-feira, 11 de agosto de 2015

A Europa a caminho da escravidão?


Dois artigos recentes, publicados em insuspeitos jornais de direita portugueses (e cujos excertos transcrevo), apontam para a inevitabilidade da escravidão dos povos dos países menos desenvolvidos caso as políticas seguidas desde a crise de 2008 não se alterem

http://observador.pt/especiais/eurocrise-uma-outra-perspectiva/

BALANÇO DE 6 ANOS DE CRISE
"Passados que estão 6 anos sobre o início da crise que temos vivido na zona euro, é tempo de se fazer um balanço mais liberto dos efeitos da poeira de curto prazo.
Começando por olhar para os grandes números e para as principais variáveis, verificamos que, entre 2008 e 2014, O PIB de toda a zona euro caiu 1,5%, o desemprego aumentou 4 pontos percentuais e as contas externas (balança corrente e de capital) passaram de um ligeiro défice correspondente a 0,4% do PIB para um excedente de 2,7%.
A situação de 2014 é, pois e do ponto de vista macroeconómico, pior do que era em 2008 e caracteriza-se por um duplo desequilíbrio – interno (elevado desemprego) e externo (excedente). Qualquer manual de macroeconomia dirá que uma tal situação reflecte uma insuficiência da procura interna. E de facto, a procura interna da zona euro como um todo é actualmente 3,4% inferior à registada em 2008.
Nos EUA, o PIB de 2014 está 8,3% acima, e o desemprego só marginalmente (0,5 pontos percentuais) mais alto, do que se verificava em 2008, ao mesmo tempo que melhorou o défice externo em cerca de 2% do PIB. Quanto ao grupo de “membros da UE não euro” e durante o mesmo período, o seu PIB agregado subiu 4,8%, o desemprego aumentou 1,7 pontos percentuais e a conta externa melhorou o equivalente a 2,4% do PIB.
Desta comparação parece, pois, resultar claro que o mau desempenho da zona euro durante a crise não era inevitável"
"Durante os seis anos da análise, os Deficitários passaram de um défice externo correspondente a 9,4% do seu PIB agregado para um excedente de 1.5% (um ajustamento de 11 pontos percentuais!). Para conseguirem esse resultado, contraíram a procura interna em 15,8%, viram o PIB cair 7,4% e o desemprego saltar de 9,7% para 21,3%. Sem, contudo, conseguirem evitar que a sua dívida pública em percentagem do PIB mais do que duplicasse.

França e Itália também reduziram o seu pequeno défice externo de 2% do PIB para 0,4%. Para isso, tiveram a procura interna contraída em 3.6%, uma queda de 2.4% no PIB e um aumento de 4,3 pp na taxa de desemprego. Ao mesmo tempo, o seu rácio da dívida aumentou 28 pontos percentuais.
Finalmente, os Excedentários, não só não eliminaram o seu excedente externo, como até o aumentaram de 4,8% para 5,7% do PIB, forçando toda a zona euro a passar de uma posição de equilíbrio externo para um excedente de 2,7% do seu PIB agregado. Durante estes seis anos, a sua procura interna apenas aumentou 3%, o que não chegou sequer para contrabalançar o efeito contraccionista da redução em França e Itália. Deste modo, a procura interna de toda a área do euro caiu 3,4%, arrastando na queda o PIB respectivo.
Comparando mais uma vez com os EUA e com o grupo de “membros da UE não euro”, verifica-se que, durante o mesmo período, a procura interna subiu 6,5% no primeiro caso e 2,4% no segundo. Resta acrescentar que a dívida pública em percentagem do PIB aumentou 32 pp nos EUA, estando agora nos 105%, enquanto que em toda a zona euro, o aumento foi inferior (26 pp) e o nível (95%) está abaixo do americano.

Juntando todos os dados, é razoável concluir-se que a zona euro dedicou mais de um terço da sua vida a um ajustamento desequilibrado, que empobreceu toda a zona. Os custos desse ajustamento recaíram quase exclusivamente sobre os países mais pobres, empobrecendo-os ainda mais e aumentando o seu desnível para com os mais ricos.

O resultado desta assimetria é claramente visível na distribuição do desemprego, com os Deficitários, representando menos de 20% da economia e um quarto da população activa, a concentrarem actualmente quase metade do desemprego de toda a área do euro. Enquanto os Excedentários, pesando mais de 40% na economia e na população activa total, têm apenas 20% do desemprego de toda a área (em 2008 tinham 34,4%).

E ao fim deste tempo todo, os Deficitários estão presos numa armadilha: atingiram o equilíbrio externo, à custa do equilíbrio interno (visível nos níveis de desemprego). Pelo que, sem um choque de procura externa, só conseguirão recuperar o equilíbrio interno, sacrificando o equilíbrio externo e só conseguirão manter este, continuando a sacrificar o equilíbrio interno (isto é, a manter elevados níveis de desemprego). Com uma elevada alavancagem financeira, dificilmente conseguirão sair deste círculo vicioso sem um choque financeiro de origem externa, mas que não lhes aumente a dívida."

http://ionline.pt/artigo/406362/grecia-alemanha-lucrou-mais-de-100-mil-milhoes-de-euros-com-a-crise?seccao=Mundo_i

"A Alemanha "beneficiou claramente com a crise grega", em mais de 100 mil milhões de euros, segundo um estudo divulgado esta segunda-feira pelo Instituto de Investigação Económica Leibniz, citado pela agência France Presse (AFP)."

"O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, opôs-se a uma reestruturação da dívida grega, apontando para o orçamento equilibrado do seu governo.

O instituto, porém, defende que o equilíbrio orçamental alemão só foi possível graças às poupanças em taxas de juro por causa da crise de dívida grega.

Os estimados 100 mil milhões de euros que a Alemanha poupou desde 2010 constituíram cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país."